sábado, 16 de julho de 2011

Educação e Mídia: uma reflexão sobre os efeitos da Comunicação de Massa na constituição de subjetividades

Recentemente, a equipe do JN no ar, quadro recém finalizado do noticiário Jornal Nacional, esteve fazendo uma blitz da educação na cidade de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, na qual resido. A visita dessa equipe levantou alguns pontos polêmicos, os quais se constituem em “prato cheio” para um debate acerca da influência da Comunicação de Massa na sociedade.
Na reportagem, que foi exibida no dia 16 de Maio de 2011, a equipe afirma ter encontrado um grande contraste entre duas escolas que estão na mesma cidade. Uma das escolas tem o índice de educação considerado melhor que a média nacional, onde as crianças, aos 7 anos, são praticamente alfabetizadas. Em outra escola, com uma realidade muito distinta da primeira, foram encontrados jovens de 13 anos ainda analfabetos.   
O especialista em Educação que acompanhou a equipe do JN na blitz, Gustavo Ioschpe, atribuiu o sucesso da primeira escola a fatores como: participação da família, organização, limpeza, disciplina, envolvimento dos professores, reforço para alunos no turno contrário ao que frequenta as aulas, atividades extracurriculares e equipamentos modernos.
Já para outra escola, a reportagem apenas destacou pontos negativos da instituição. Para Ioschpe, “a escola tem muitos problemas, mas a direção, os professores, as famílias e os alunos precisam reagir porque o prejuízo é de todos”.
A partir de uma breve descrição da reportagem realizada, pode-se observar um aspecto fortemente explícito: a equipe do JN no ar parece já ter expressado seu interesse em apontar contrastes entre as escolas. Isso pode ser claramente identificado no início da reportagem, em que a equipe chega à cidade procurando uma escola “boa” e outra “ruim”.
Na televisão há interesses de diversas naturezas, tais como financeiros, políticos e ideológicos. “Todo discurso deve ser interpretado a partir do ‘lugar social’ de quem fala” e, por essa razão, “nossos alunos devem sempre se preocupar e pensar nisso ao ver na TV uma verdade, um programa, uma entrevista” (PEREIRA, 2011, p. 4).
Além disso, os alunos (cidadãos, futuros trabalhadores, telespectadores) devem compreender que aquele que discursa sobre um determinado fenômeno “mostra o que quer” a partir de sua perspectiva. No caso dessa blitz, a equipe interpretou uma determinada realidade a partir de seu referencial teórico, de sua formação, cultura, ideologia. Nesse sentido, não é possível considerar que os integrantes dessa equipe observaram e analisaram a realidade dessas escolas de forma objetiva. “Por mais que se fale na ‘objetividade Jornalística’, ou do pesquisador, sabemos que na prática isso não acontece de modo simples” (PEREIRA, 2011, p. 7).
A Comunicação de Massa, nesse caso a televisão, possui forte poder de influenciar os telespectadores, disseminando ideologias e discursos distorcidos, não fielmente representativos da realidade. Certamente, após a exibição da reportagem, alguns cidadãos hamburgueses, que se deixaram levar pela lógica emocional, acreditaram no discurso veiculado por ela, aceitando passivamente que a escola “boa” assume determinadas características, enquanto que a “ruim” assume características opostas a da primeira.
Frente às considerações apresentadas acima, a escola tem a função (que é apenas uma de muitas outras) de contribuir no desenvolvimento do senso crítico no aluno para que possa compreender os aspectos subjetivos que permeiam as mídias de Comunicação de Massa e perceber que “a verdade mostrada é apenas uma releitura da realidade concreta e objetiva” (PEREIRA, 2011, p. 7). Assim, "a alfabetização em televisão não é lutar contra a televisão, uma luta sem sentido, mas como estimular o desenvolvimento da curiosidade e do pensar críticos" (FREIRE, 2000).

Nenhum comentário:

Postar um comentário